A realidade é mais real em preto e branco – Octavio Paz (comentando as obras de Bravo)
Foi o mestre da fotografia Henry Cartier Bresson que disse “fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração” e o mexicano Manuel Álvarez Bravo – contemporâneo de Bresson – tratou de seguir esse ‘conselho’ e, de modo tão apaixonado, que durante 70 anos, munido de sua câmera e com o olhar e o coração devidamente perfilados, registrou imagens de seu país natal – o México – carregadas de poesia e encantamento.
![]() |
Figuras no castelo, década de 1920
Considerado a maior referência da moderna fotografia mexicana, as imagens de Álvarez Bravo mostram toda a riqueza social e cultural desse que é o país berço de civilizações milenares que foram fundamentais para o desenvolvimento da matemática, da medicina, arquitetura entre outras.
A cultura mexicana é fascinante – sou suspeita para falar porque para mim, o maior escritor do mundo (embora eu não acredite muito nisso de ‘maiores’ e ‘melhores’ e etc.) é o mexicano Juan Rulfo que com o seu livro Pedro Páramo e o Planalto em Chamas, escreveu um verdadeiro tratado sobre a vida rural mexicana (um dia falarei dele aqui no blog).
![]() |
Com seu filho, década de 1950 |
Mas voltando ao Álvarez Bravo (e pedindo para que vocês perdoem os meus delírios) basicamente o que ele fez em seus 70 anos de trabalho fotográfico, foi mirar o visor de sua câmera para as mulheres, homens, velhos, crianças; enfim, para os muitos anônimos que cruzaram seu caminho ali, entre as décadas de 1920 e 1970.
Vale lembrar que gente como Frida Kahlo e Diego Rivera – pintores - André Breton – escritor - Serguei Eisenstein – cineasta – e claro, Juan Rulfo – que também era fotógrafo – também dão o ar da graça na exposição. E só por isso já valeria visitá-la.
A fotografia de Manuel Álvarez Bravo passeia por paisagens urbanas e rurais, montanhas e cidades, pelos quintais de casas simples nos quais mulheres estendem roupas em varais iluminados; revela jardins humildes, trabalhadores, prostitutas em poses eróticas ou não; crianças que brincam pelas ruas celebrando a infância...
Tudo se revela de maneira sempre encantada, como se víssemos uma imagem sonhada e não real; mas é justamente por isso que certos matizes do cotidiano se revelam de forma intensa e (vejam só); real.
Penso que obras de arte não deixam de ser uma celebração da vida e de suas tantas belezas, dores e questionamentos e tudo isso está presente - com louvor - na obra desse grande fotógrafo.
![]() |
Janela para os agaves, 1974-1976 |
A mostra de Manuel Álvares Bravo – que morreu aos 100 anos de idade, em 2002 - e foi produzida em parceria com a Associação Manuel Álvarez Bravo e com apoio do Museu de Arte Moderna e do Instituto Nacional de Belas Artes do México, fica em cartaz no Instituto Moreira Salles de São Paulo até 8 de julho.
Para saber mais acesse: http://ims.uol.com.br/
(Crédito das fotos: Manuel Álvarez Bravo © Colette Urbajtel/ Asociación Manuel Álvarez Bravo, a.c)