segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


Escolas: lugares de paz ... Ou não?



Ana Claudia Vargas

A cena se repete:  as pessoas colocam velas,  choram e se abraçam, inconsoláveis; a polícia faz o habitual cordão de isolamento, autoridades concedem entrevistas para uma multidão de jornalistas que precisam de respostas (quem as tem?) urgentes e esclarecedoras, especialistas nisso e naquilo são chamados às pressas, mas nem eles sabem o que dizer (essa é a verdade).

E ainda há aquelas fotos sendo divulgadas: as crianças tão lindas como são todas – pois até aquelas não tão lindas, agora tem suas imagens revestidas de certa beleza  (haja manipulação midiática!) –  com aquela alegria que parece eterna, típica da infância.


E assim, tudo segue como sempre: até o presidente da nação poderosa chorou e disse que eles ‘não estão fazendo o suficiente’. Bom, ao menos lá eles são capazes de reconhecer suas imperfeições.

Estas são algumas das imagens  que envolvem ‘mais um massacre em escola norte-americana’, mais um,  outro, naquele país no qual as armas são tão incensadas, no qual as pessoas gostam de ser fotografadas empunhando armas, no qual as pessoas têm o hábito de passarem para os filhos o ‘amor às armas’ e etc.

Eu fiquei pensando: se esse rapaz aí – que dizem, era tímido, reservado, inteligente e isso e aquilo – com todas as suas neuroses humanas devidamente calibradas, não tivesse uma arma ali, dentro de sua própria casa, isso teria acontecido?

Talvez ele fosse pensar em outro modo de mostrar sua raiva, talvez fosse arrumar o que fazer, talvez ele fosse apenas mais um dos tantos que sofrem no ambiente opressor das escolas e leva aquele tempo vida afora como uma lembrança não tão feliz e só.

Afinal, quantos de nós não guardamos alguma lembrança desagradável dos tempos da escola? Professores despreparados (eu guardo muitas, afinal, tive que estudar num ‘bom’ colégio católico... Mil anos de análise por isso rs), aqueles variados acontecimentos carregados de preconceito, humilhação, arrogância e por aí afora. (Mas guardo muitos momentos felizes também...poucos rs).

Perdi a conta da quantidade de vezes em que vi crianças pobres sendo humilhadas pelos professores tão bem intencionados ou pelos outros alunos, digamos, mais bem aquinhoados ou não. Já se passaram tantos anos e eu ainda me lembro.

O ambiente escolar já foi e sempre será um prato cheio para  debates psicológicos, sociais, cinematográficos, ficcionais ou não  e etc. etc. Ali naquele caos organizado à força, acontece de tudo  - de ruim, de bom - e o constante conflito que emerge das relações professor-aluno; aluno-aluno; professor-professor, professores-paisemães...realmente, compõe uma matéria prima riquíssima para quem se dispõe a analisar a coisa toda (quem sabe o Lars Von Trier não encara o desafio e faz um filme com essa temática? Torçamos!).











Escolas: quantas neuroses coletivas, não?!
(foto: Samuel Gompers - 1888)



Reflexo do mundo

Agora, imagine no meio de tudo isso, com as devidas diferenças (temporais, sociais e outras mais) uma pessoa que já tenha as suas neuroses, que esteja na fase mais vulnerável da vida – a infância  e a adolescência – e se sinta sempre desprezado e inadequado ou as duas coisas juntas. 

Em seguida coloque dentro da casa dessa pessoa, uma arma qualquer – lembrando que se trata de uma pessoa solitária numa família que não tinha, segundo os jornalões,  o hábito do diálogo– e junte a tudo, o cotidiano numa sociedade individualista que colabora para que alguém assim (ao sair para o ‘mundo’, para além dos muros da escola) se torne ainda mais só. 

O que temos é isso: um assassino em potencial tendo diante de si tudo – exatamente tudo - o que ele precisa para descarregar seu ódio em quem estiver pela frente.

Mas tudo isso você está cansado de ler, o que eu fico pensando é que há muito ressentimento acumulado para que pessoas como este rapaz voltem todo o seu fermentado ódio para os lugares nos quais estudaram. Vejam: eles voltam ‘lá’, imagine o quanto eles carregam de más lembranças para fazerem estes espetáculos sangrentos sempre ‘lá’, nas suas antigas escolas.

Esse massacre, os anteriores e os futuros deveriam levar todos nós a refletirmos sobre o quanto os ambientes escolares podem ser perversos, pois quanta gente há que vai lecionar porque não achou coisa melhor pra fazer – o que favorece o peso das más energias -  quantas crianças existem que recebem uma educação carregada de preconceitos em casa e levam isso para o convívio escolar?

É claro que nada disso justifica que alguém  saia por aí assassinando crianças ou professores bem ou mal intencionados, mas lembremos: a humanidade deve seu (suposto) desenvolvimento também às  variadas formas de violência (não sejamos hipócritas).

A violência existe dentro da escola porque existe fora dela, como torná-la um lugar imune a ela se seres imperfeitos (como somos todos) estão em toda parte?

Este massacre oferece (novamente) a ‘oportunidade’ de refletirmos se esse modelo social é bom para todos nós, quer dizer, para alguns não é – como temos visto diariamente - e dependendo das particularidades desses ‘alguns’, poderemos ter ainda muitos casos tristes como esse.
É esperar para ver.



A paz é possível?

 
                                                        Paulo R. Santos

Sim, claro! A paz é possível se a desejarmos e a construirmos no cotidiano. A construção da paz não passa por eventos grandiosos, campanhas ou por alguma outorga do Estado. A paz não se impõe, exceto a paz dos mortos, a paz dos túmulos. A paz é uma escolha individual que se realiza coletivamente.

Mas, o que é a paz? Não é difícil concluir que é bem mais que a ausência de guerra. A paz é um estado de bem-estar físico, emocional, mental, espiritual, com nosso interior e com o exterior, com tudo aquilo que nos rodeia. Não é um presente dos deuses, é o resultado de uma escolha consciente das consequências e também dos ganhos, mesmo que parciais.

A paz é uma decisão pessoal, íntima, baseada numa interpretação correta da vida e do mundo, sabendo que 'interpretação correta' não significa perfeita ou definitiva, apenas saber ver o mundo com mais clareza e menos espírito de rebanho, sem a mentalidade pasteurizada e robotizada tão comum em nossos dias.

A paz implica escolhas e, portanto, perdas. Abrir mão de algumas coisas para se ter outras. A paz interior depende de rupturas com vários padrões de comportamento que, mesmo sendo comuns, não são saudáveis. Consumismo, rivalidades, moralismos, ganância, competição, culto ao corpo, noção equivocada de progresso (como acumulação de bens), desprezo pelo conhecimento, negação do 'outro', individualismo e tantas coisas mais que precisam passar pela mente de quem busca a paz.


A paz: miragem ou possibilidade real?





A paz não vem sem esforço e é resultado de pequenas ações no cotidiano. A cordialidade, a gentileza, uma boa música, um bom livro, um bom filme, uma boa conversa. Reaprender a dialogar e aprender a dar nomes aos próprios sentimentos. Resolver os conflitos internos e externos através da compreensão dos mesmos, e sabendo que jamais poderemos viver completamente isentos de conflitos, qualquer que seja a natureza deles.

Paz e felicidade se parecem muito. Três séculos antes de nossa era, o filósofo grego Epicuro de Samos definiu a felicidade como a saúde do corpo e a serenidade do espírito. Felicidade é um estado de alma e o nome de um sentimento. Paz vai além e depende do que é possível construir com o 'material' disponível à sua volta. Procure a 'Carta sobre a felicidade', de Epicuro, disponível na internet!

Tanto a paz quanto a felicidade serão sempre relativas, incompletas e instáveis. É bom saber disso, pois nada na vida é estático, parado ou imutável. Se a vida é dinâmica, será necessário estar atento para dar 'manutenção' à paz possível, corrigindo atitudes, rotas, escolhas. De qualquer forma, sem determinação, não haverá paz alguma.

Um novo ano se aproxima e esse tem sido um momento psicológico propício para planos e projetos.
Escolher a paz e a felicidade, sem imaginar que nos serão concedidas ou outorgadas, é uma boa escolha e um bom projeto. Não terceirizar sua realização, pois assim as colocamos na dependência dos outros … e isso é sempre muito arriscado!

 Paulo Santos edita o blog http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/


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 Meio ambiente


Prosperar sem crescer: é possível? 


Por Marcus Eduardo de Oliveira (*)

É possível fazer uma economia prosperar sem que haja crescimento, sem que haja mais produção de bens e serviços? É factível ter uma vida melhor com equilíbrio e justiça social sem passar pelo aumento do estoque de produtos disponíveis no mercado?


Se entendermos que a economia é limitada pelos recursos naturais e pelos ecossistemas fica fácil aceitar que há então explicitamente limites para o crescimento, uma vez que a Terra não é capaz de sustentar elevadas produções físicas além das consideradas normais e, crescer, nesse caso, seria antieconômico e contraproducente.

Contudo, se concordarmos com a prédica dos economistas convencionais de que os recursos naturais são meras ocorrências de externalidades, que todo e qualquer impacto na natureza em decorrência da atividade produtiva expansiva é uma questão tão somente de ordem periférica e que a inovação tecnológica, um belo dia qualquer, suprirá a atual limitação natural, então, crescer, nesse caso, é a única receita viável para se alcançar elevados padrões de bem-estar e de melhoria acentuada das condições de vida.

Diante disso, o debate está posto à mesa. De um lado, os economistas ecológicos pontuam continuamente que o planeta não tem capacidade de sustentar a vida nesse ritmo avssalador de consumo, pois as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, o esgotamento dos recursos naturais e o desaparecimento de ecossistemas estão indo à exaustão. Quem está desse lado do debate se posiciona de forma contrária ao crescimento sem limites, uma vez que isso seria potencialmente emissor de gases capazes de aquecer ainda mais o planeta, fruto do desrespeito aos limites biofísicos do meio ambiente.

Do outro lado do debate, há quem defenda que chegaremos em breve a praticar com eficiência o uso dos recursos, preservando - e não destruindo -, a riqueza natural. Quem está desse lado diz que é justamente o crescimento, vindo da inovação e de tecnologias avançadas que fará a prosperidade aumentar e que ultrapassando as fronteiras ecossistêmicas nada acontecerá de mais grave ao conjunto da vida social.

Esse debate se acirra a partir do seguinte ponto: crescimento não significa (e nunca significou) desenvolvimento. Crescimento é a expansão das bases físicas da economia (fazer mais), o que significa aumentar a pressão sobre os recursos naturais, ao passo que desenvolvimento é assegurar melhorias nas condições de vida – viver melhor. O primeiro conceito - como é natural supor - se prende ao lado quantitativo (mais); já o segundo se refere ao aspecto qualitativo (melhor).

Estudos recentes indicam que a economia global tem hoje cinco vezes o tamanho de meio século atrás. Continuando com esse ritmo de produção, no ano de 2100 terá 80 vezes esse tamanho. Pior: esse exagerado crescimento econômico atingido até agora distribuiu pessimamente os recursos. Atualmente, um quinto da população mundial recebe meros 2% da renda global.

Assim, a ideia de prosperar não encontra fundamento no princípio do crescimento. Corroborando com isso, ao menos dois renomados especialistas tem recomendado modelos econômicos e estilos de vida que priorizam o lado qualitativo.

Peter Victor, o primeiro deles, é o autor de Managing Without Growth . Ao estudar o modelo de desenvolvimento para o Canadá no decorrer dos próximos 30 anos, Victor assegura que é possível prosperar sem crescer. De que forma? Criando um modelo econômico que seja capaz de equilibrar a capacidade produtiva da economia com o nível de gastos para que haja pleno emprego, sem necessariamente manter a economia expandindo ao longo do tempo.  O que o modelo faz é empregar os benefícios de um aumento de produtividade na forma de mais lazer – vida melhor.  Nas palavras de Victor: “Assim, podemos nos tornar mais produtivos sem ter de produzir mais, apenas trabalhar menos.  Desde que haja distribuição, é possível ter muito menos desigualdade, sem crescimento”.

Outro renomado especialista no assunto é Tim Jackson, autor de Prosperity without Growth - Economics for a Finite Planet para quem “os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim”. Jackson afirma que o mais importante é procurar viver bem, e não viver com mais. Nas palavras de Jackson: “Viver bem está ligado à nutrição, a moradias decentes, ao acesso a serviços de boa qualidade, a comunidades estáveis, a empregos satisfatórios. A prosperidade, em qualquer sentido da palavra, transcende as preocupações materiais. Ela reside em nosso amor por nossas famílias, ao apoio de nossos amigos e à força de nossas comunidades, à nossa capacidade de participar totalmente na vida da sociedade, em uma sensação de sentido e razão para nossas vidas”.

Como vimos, o debate está lançado. Acima de tudo, que a vida e o planeta sejam respeitados. Assim, todos nós agradeceremos.

(*) Economista e professor. Mestre pela USP em Integração da América Latina.


















2 comentários:

Vanessa disse...

É realmente chocante a frequência com que tragédias como a da semana passada acontecem nos EUA. O choro de Obama é simbólico, mas é pouco para uma sociedade que ostenta seu poder bélico no cotidiano mais banal.

Anamaria disse...

Prosperar sem crescer: é possível?; A paz é possível?; As escolas são lugares de paz?... Perguntas difíceis de responder - impossível, eu responderia a todas elas... É que a paz não é um desejo coletivo. Mesmo que isso soe pessimista eu mantenho a minha impressão de que as coisas boas vão ficando cada vez mais inatingíveis, mais distantes a cada dia.