Não no Natal
Ana Claudia
...e eu fazia parte do grupo dos que acreditavam, eu era
daquelas que – como uma boa criança da década de setenta – acreditava.
Junte-se à infância, o fato de que foi um tempo vivido no interior
mineiro, ou seja, com tudo aquilo que transborda em causos, lendas, sonhos e outras
tantas histórias e que torna a vida mais fácil de ser vivida ( e eu lamento
pelas crianças que não podem viver essa fase de forma despreocupada e lamento
por quem não levará, pelo menos, algumas boas recordações dessa época).
O natal deveria ser um tempo à parte... |
Quando dezembro apontava na folhinha o ar já estava há muito impregnado do cheiro das mangas – era (é) um cheiro adocicado –porque todos os
quintais eram imensos e tinham muitos pés de manga (abóbora, três anos, espada,
coquinho: nomes que mudam conforme a região como já percebi) - e as serras ao
redor da cidade ficavam constantemente azuladas porque as chuvas não paravam.
E isso era maravilhoso: como eu gostava daquelas chuvaradas
de dezembro que enlameavam as ruas, deixavam os paralelepípedos dos calçamentos
escorregadios e faziam com que o ar, sempre úmido, retivesse ainda mais o aroma
das mangas e os outros cheiros dos tantos 'matos' que havia naqueles nossos quintais:
hortelã, laranjas, mamoeiros, erva cidreira, dama da noite...
O natal era isso: o tempo das férias escolares, de poder
brincar por esses quintais construindo nossas fantasias infantis sob a forma de
circos, cabanas e teatrinhos. Também
havia as novenas natalinas nas casas uns dos outros, o retorno dos que estavam longe, as muitas e
pequenas alegrias que permaneceram tão incrustadas na memória que dezembro
ainda é, para mim, o mês mais querido e desejado.
Natal pós-moderno
Na TV anunciam sem parar televisores de não sei quantas
polegadas por um valor X, e celulares e câmeras e carros e não sei mais o
quê. Uma amiga me contou que viu a cena
num grande supermercado: a família toda – pais e dois filhos – tentando enfiar
uma TV gigante dentro de um carro popular. Ela não esperou pra ver se a coisa
coube lá.
As crianças devem ter o direito de acreditar em anjos, pelo menos nessa época. |
Consumismo sempre houve e sempre haverá: é a mola do mundo
capitalista e não sou eu quem vai ficar escrevendo sobre o quanto isso é ruim
para o planeta e o quanto isso torna os seres humanos fúteis, mesquinhos ou
rasos.
Eu também esperava ansiosa pelos presentes dessa época
natalina, às vezes havia, às vezes, não; e isso era bem frustrante confesso,
mas o fato é que os natais da minha infância eram feitos de outras coisas e essas
sim, é que eram importantes: estar perto
da família, andar pelos quintais (sempre e sempre), brincar muito, rir bastante, a vida era de
uma riqueza enorme (com ou sem presentes).
Nessa esquisita crônica ‘de natal’ (sim, era essa a minha
intenção) o que eu queria, na verdade, é saber se as crianças de hoje estão conseguindo
viver isso nas suas infâncias. Saber se elas estão conseguindo acreditar, se
elas estão podendo brincar nos seus mundos fantasiosos, mesmo com essa
avalanche de notícias ruins que não cessam, mesmo com todas essas propagandas
gritadas (porque eles agora gritam? Os locutores dessas propagandas?! Essa moda
horrorosa foi lançada pela Casas Bahia, acho) para que se comprem TVs enormes que
talvez nem vão caber nos apartamentos minúsculos de hoje.
Não há nada de errado
em se comprar coisas, mas quando TUDO vira somente isso, penso que sim, há algo de
errado. Ora, mas não é justamente no natal que se deve comprar e trocar
presentes? Sim, que se comprem coisas e que as crianças ganhem
presentes porque ficarão felizes, mas que o natal não se torne somente isso.
Como assim? O natal há muito já é somente isso!, diz a minha voz racional.
Então, peço que vocês perdoem meu anacronismo e total ausência de senso de realidade real (estamos em dezembro de
2012 Ana Claudia!) só sei que se eu pudesse colocaria todas as crianças num
lugar perfumado e elas ficariam rodeadas por grandes árvores que refrescariam o
ar e o céu seria azul bem azul e nada disso que nos atormenta, a nós adultos,
chegaria até elas, pelo menos não no natal.
E elas ganhariam presentes mas haveriam de se lembrar de muito mais coisas, além disso, em seus futuros.
E elas ganhariam presentes mas haveriam de se lembrar de muito mais coisas, além disso, em seus futuros.
Geraes de Minas
Pequizeiros, ipês e o cerrado
Paulo
R. Santos
Ipê amarelo: um dos símbolos de Minas. |
O que seria de Minas sem os
pequizeiros, os ipês (amarelos, brancos, rosas, roxos … desaparecendo
lentamente), o barbatimão já quase inexistente; sem os cupinzeiros, as árvores
e sementes de cascas grossas para poderem resistir ao fogo anual de todo
julho-agosto?
O que seria de Minas sem esse
jeito de savana ?
Sim! Minas não é só barroco e
'uai'. Minas não é só Drummond, Guimarães Rosa e Ziraldo. Há anônimos e
anônimas fazendo coisas de maravilhar aí pelas Gerais. Minas dos muros de
pedras, das valas que separaram fazendas e sesmarias em séculos passados, mas
não tanto. A culinária africana tão presente, e aquele jeito de falar cantado
(dizem os 'forasteiros'), com um sotaque diferente, como tantos sotaques
diferentes por esse imenso Brasil de norte a sul, de leste a oeste.
O diminutivo em inho e inha,
herança do jeito africano de falar. Esse diminutivo de carinho que tomou o
lugar do ita, dos tempos em que o Brasil pertenceu à Espanha, que já
dominou Portugal em tempos idos, levando junto as colônias.
Minas não é composta só de minas,
lavras e de trilhas, de pousadas e de casario colonial, de heranças de um passado que – ainda e sempre – , insiste
em ser tão presente! Reencarnação existe? Se sim, então estamos todos de volta!
Minas tem a locomotiva industrial
como vizinha ao sul. Tem a chamada 'cidade maravilhosa' a leste e uma parcela
de si, a oeste. Sim! Pois, Goiás foi se formando com o fim do chamado 'ciclo do
ouro' e muitos mineiros foram se transferindo pra lá. Ao norte, a Bahia de
todos os santos e orixás ! Talvez nosso ‘parente’ mais próximo.
As Minas são muitas e são
extremas. Numa pequena cidade interiorana mais afastada pode-se ouvir um
linguajar de cem anos atrás, enquanto na grande Belo Horizonte encontramos de
tudo um pouco; do melhor ao pior, como em toda capital. Há violência e morte e
também muita vida, exuberante, e oportunidades várias.
Das muitas Minas, cada mineiro
traz uma em particular no coração, apesar de amar a todas. Os erros e acertos, se existirem, dos
políticos que por aqui fazem e acontecem não chegam a perturbar uma certa
lentidão natural das Gerais e dos geralistas nativos. Parece que o mineiro
fareja que nem toda novidade é boa!
Minas ainda vai durar muito
tempo, mesmo vendo seu cerrado sendo devastado, sua cultura sendo mutilada;
ilhas de fauna e flora nativas em meio aos mares de eucaliptos. Um povo que não
tem pressa em sair de sua região, e quando o faz é por necessidade profissional
ou familiar. Principalmente os mais jovens se veem frequentemente nessa
contingência, diante das necessidades criadas pelo neocanibalismo, digo,
neoliberalismo, já moribundo … ainda bem!
Paulo Santos é sociólogo e edita o blog http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/
Paulo Santos é sociólogo e edita o blog http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/
Meu País
Qualidade de vida: codinome do desenvolvimento econômico |
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Marcus Eduardo de Oliveira | |
Dito isso, é oportuno
apontar que na esteira desse crescimento econômico é de fundamental importância
atingir alguns pontos:
1. Eliminar a pobreza absoluta;
2. Melhorar a qualidade
do capital humano;
3. Destruir os mecanismos que permitem concentrar a renda;
4. Romper sistematicamente com o círculo vicioso da pobreza (baixa
escolaridade, subemprego, baixo nível de investimento).
Conquanto, há caminhos a serem trilhados para se chegar lá. Um deles aponta para a necessidade de saber algo imperioso: crescer economicamente reduzindo, em paralelo, os graves níveis de desigualdade social é uma condição dada, no curto prazo, pela disponibilidade física dos recursos; até mesmo porque “crescer” significa “destruir”.
Em outras palavras, não há crescimento econômico se não houver utilização dos recursos. Entretanto, não há recursos em quantidade ilimitada para um crescimento sem margens.
Dessa forma, é interessante ter em conta que há uma relação sintomática (de causa e efeito) entre a economia e o meio ambiente. Há um considerável grau de dependência por parte da economia em relação à natureza. Nunca é demasiado reiterar que toda e qualquer produção advém de recursos extraídos da natureza. Acontece que no afã em se buscar a qualquer custo as “consagradas” e elevadas taxas de crescimento da economia, pois é justamente assim, de forma errônea, que a economia tradicional identifica progresso material interpretando-o como sinônimo de riqueza, pouca atenção e visibilidade tem sido dadas aos aspectos físicos, a existência de limites naturais.
Não adianta vendermos aviões ao mercado externo se ainda nem mesmo sabemos ao certo como tratar os 43 milhões de toneladas de lixo que são produzidos nesse país ao ano. |
Em outras palavras, não adianta, por exemplo, ocuparmos a sexta posição no ranking mundial de produção de veículos (em 2010, foram produzidos 3,6 milhões de unidades) se não melhorarmos as vias e as rodovias para essa circulação (temos mais de 1,7 milhão de km de malha rodoviária, mas apenas 170 mil km estão pavimentados e há uma “pesada” relação de seis habitantes por carro).
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO (São Paulo). Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre (USP). prof.marcuseduardo@bol.com.br
Um comentário:
Neste país de tantos desacertos, tantas contradições, e de pouquíssima boa vontade é, infelizmente, um caminho reto e certeiro para a descrença neste "povo brasileiro". É uma questão cultural,parece-me - sem remédio.
Mesmo porque a educação, que é o que poderia salvar esta nossa terra, está cada dia pior. Então, esperemos por um milagre... Enquanto isso, que o Natal seja feliz!
Embora isso e aquilo (rs), gostei muito da crônica (Não no Natal). Um belo texto.
Anamaria
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