Ana Vargas
Conta a lenda que um dia, o avô do playboy o chamou e lhe deu um
ultimato: é agora ou agora.
Foi o avô - personagem mais que mitificado e
idealizado da história do estado e do país do playboy e figura, portanto, já
cativa do imaginário popular _ quem abriu caminho, desbravou terrenos pedregosos
e praticamente o levou (quase) intacto aos altos cargos que ele passaria a
ocupar desde então.
Foi por meio da figura
quase santificada desse avô que, ainda por cima, estava à beira da morte (nada
mais pungente e capaz de cegar multidões do que isso) que ele, o playboy,
chegou ‘lá’.
Que se saiba, questões
que costumam sensibilizar aquele tipo de
gente que se envolve em política porque quer mudar o mundo (ainda que isso
signifique quase sempre, vã ideologia e ainda que a gente saiba o quanto isso
costuma mudar quando tais pessoas conseguem tal coisa) nunca pareceram ser
importantes para ele, o playboy.
E nem poderia ser diferente,
afinal, já que o dito era filho, neto e bisneto da mais elitista oligarquia.
Ora, você dirá: se é elite só poderia ser oligárquica; sim, mas o tipo de elite
que produziu o playboy em questão, é a elite da elite, entendem?
Essa elite é daquele tipo
que tem raízes tão profundas e arraigadas que se perdem na noite dos tempos e
das histórias que originaram o estado no
qual se passa essa lenda.
Um lugar que ainda
pode se orgulhar (se for o caso) de suas
manifestações artísticas, principalmente, daquelas que resistem por força e
apreço do seu povo (e somente por isso), de suas paisagens deslumbrantes e de
seus casarios coloniais e etc., mas que não tem motivo nenhum para se orgulhar
do tipo de política que vem há anos, sendo cometida por seus... políticos*.
Um tipo que produziu pessoas como o playboy que,
apesar de ter ocupado os mais altos cargos do estado no qual nasceu
(lembrem-se: não por competência pessoal, mas sim, por questões familiares,
oligárquicas e míticas) exerceu de forma esquecível (para dizer o mínimo) todas
as suas funções públicas nas quais esteve à frente.
Culpado?
Mas que culpa o playboy
tem?
Nenhuma, na minha desnecessária
opinião.
Não é o fato de ter nascido nessas condições privilegiadas que o
tornam pior do que qualquer outro político. Ninguém pode ser acusado disso e
daquilo porque nasceu rico ou qualquer
coisa do tipo.
Não. Nunca. Nada disso.
Qualquer jovem que tenha
nascido em famílias oligárquicas de qualquer estado do país do playboy já está
com seu futuro político (ou não político) delineado por parentes zelosos que ocuparam, ocupam ou
ocuparão cargos nesse setor. Isso parece ser quase um caminho natural e, além
do mais, não se mexe em time que está ganhando, não é mesmo?
Agora, faça um exercício fantasioso: imagine esse cara,
digo, esse playboy, lá nos idos da década de 1980, surfando nas praias de uma
cidade maravilhosa e podendo somente curtir a vida ( já que não precisava se
preocupar em ganhá-la) e tendo que, de uma hora para outra, assumir um papel no
circo da política que se armava lá, entre as montanhas do seu rincão natal?
Um playboy ... e só
Pois o tempo passou nessa historiazinha e também fora
dela: o país do playboy mudou um pouco e foi até elevado à condição de 7º economia do mundo, o que é algo – para quem passou aperreios como desemprego e
financiamentos ali nas décadas de 80 e 90 e suou para ter alguma coisa na vida -
verdadeiramente comemorável.
Tanta coisa aconteceu no
país no qual o playboy nascera – houve
até o impeachment de uma criatura mais ou menos parecida com ele, depois ocorreram alguns abalos econômicos, alguma estabilização houve até o caso de um ex- metalúrgico
que chegou a se eleger presidente - coisas que parecem até invencionices de um
escritor a la García Márquez.
Mas nada disso parecia ter transformado o
playboy dessa lenda em pessoa consciente de seu país e de seu tempo. Protegido
pelos tantos padrinhos políticos que (talvez) devessem favores ao seu avô; ele
seguia seu caminho como dizem, na maciota, e chegou até ocupar o mais alto cargo público do seu
estado.
Ah, é preciso dizer que o playboy era devidamente blindado pela
imprensa local de seu tempo e isso sempre o ajudava muito.
E a luta continua...
Assim o playboy continuou ocupando cargos públicos que lhe conferiam além das regalias
habituais, o direito de dizer qualquer
bobagem.
Qualquer uma mesmo.
Bastava que ele se propusesse a falar sobre
qualquer assunto para que um séquito de bajuladores se fizesse presente.
No entanto, mostrar
serviço, que é bom, nada: se a gente fosse procurar na carreira do playboy algo
que tivesse sido feito, para quem sabe, demonstrar alguma preocupação social ou cultural ou algo assim, não
encontraríamos nadinha, nada, nem com uma lupa.
Agora, se fôssemos procurar
saber dele em revistas de sub-celebridades, muito comuns naquele tempo, aí, sim: o encontraríamos lá, sempre 'curtindo a vida adoidado', como naquele filmeco dos anos 80...
Esse playboy lendário,
dizem que ele existiu e dizem que ele até sonhava em ser presidente de seu gigantesco país.
Na real...
Mas, do lado de cá, no
mundo real, a gente sonha e deseja e aspira com fé, que tudo isso não passe de
história inventada e inofensiva.
Tem gente que acha que ele,
o playboy, deve ser apenas isso (o que sempre foi): um cara bem nascido que
pode simplesmente, viver dos lucros que seus antepassados deixaram e só. E
ponto.
Pois é ou não, deveras horripilante
pensar que esse playboy poderia (poderá? Tudo é às vezes tão bizarro) ser
presidente de um país que agora sim (e apesar de tudo) está conseguindo se
manter (mais ou menos) de pé.
Torçamos todos nós,
criaturas distantes do mundo de curtições do playboy inventado dessa lenda, para que ele fique somente lá, no país que lhe foi dado viver por obra e graça e dos
que vieram antes dele.
E que ele seja muito
feliz lá e que suas delirantes
aspirações políticas não se realizem, quer dizer, não aqui, no mundo real: um
mundo, como se sabe, bem distante daquele que o playboy conhece.
*Como sabemos, o fenômeno é nacional e ainda, deve haver exceções, sim;
mas estes não devem aparecer muito (infelizmente).
Amenidades: imagens do frio nessas bandas das Geraes:
Represa Bortolan.... |
Um pôr do sol... |
Entre morros... |
De manhã... |
3 comentários:
Bom demais da conta!!! Excelente texto!! Não poderia enviá-lo para algum lugar aonde poderia ser melhor e mais amplamente apreciado?
Espero que sim.
Esqueci de dizer (fiquei muito empolgada!) que as fotos estão maravilhosas!
Vocês que são das 'Gerais' conhecem melhor a figura, mas não posso deixar de registrar que a possibilidade do playboy assumir um cargo tão importante me dá arrepios... =/
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