...parodiando certo comercial "lugar de gente feliz!"
O facebook seria apenas um painel virtual das hipocrisias humanas ou porque todo mundo acha que é obrigado a ser feliz, hein? (Arte: Ricardo Inforzato) |
Falar mal do
Facebook é a coisa mais fácil em um tempo no qual tentamos proteger a nossa
privacidade já tão devassada devido a razões que vão do controle que é feito
pelos governos desde sempre (com a obrigatoriedade dos muitos documentos que precisamos
ter, o pagamento de impostos variados, o
dever de votar e de entregar a famigerada declaração de imposto de renda anual
e por aí afora) até a moda já até meio
passada (mas infelizmente necessária), de se colocar câmeras em tudo quanto é lugar:
nas ruas, nas escolas (até nos banheiros), nos prédios (até os de padrão de
médio para baixo), nas empresas, casas, igrejas e etc.
Ou seja: não
há ‘privacidade’ que resista.
Mas então
eis que um garoto prodígio lá dos States
(são quase sempre eles) inventou isso de um lugar
no mundo virtual no qual as pessoas pudessem postar suas vidas, digamos assim,
para que seus amigos e os amigos dos amigos e os amigos deles, pudessem estar
bem cientes e não terem nenhuma dúvida do quanto essas vidas estão fazendo por
compensar a estadia aqui no planeta.
Ah sim,
antes tivemos o Orkut, mas onde foi
parar o tal Orkut depois do tsunami chamado
Facebook?
Boa pergunta
que eu não me darei ao trabalho de pesquisar pra descobrir porque o que
interessa aqui é mesmo falar (mal, bem...?) do ‘face’ (porque agora já estamos
íntimos dele e dizemos ‘face’).
Pois então:
para começar chamar o facebook de ‘fakebook’ é mais clichê do que tudo, eu
admito. Aquele cara que escreve na Folha, o para muitos mal humorado e
pessimista Luiz Felipe Pondé, em
artigo publicado em abril desse ano, já falava sobre o facebook e as tais redes
sociais em geral, coisas nada alegrinhas como que ‘potencializam o que é (...) repetitivo, banal e angustiante” e seria algo que não passaria de ‘uma
ferramenta de narcisismo generalizado’.
Vínculos fracos
Outro artigo
aliás, bem mais aprofundado do que o do Pondé, sobre as tais redes sociais é o
“A revolução não será tuitada’ que o escritor canadense Malcolm Gladwell escreveu. Apesar de acreditar no poder que tais
redes têm de fomentar mobilizações, ele afirma que os vínculos criados nelas são
muito fracos para fazer com que tais ‘eventos’, realmente mudem alguma coisa no mundo real, o mundo das
manifestações de rua, dos ativistas que literalmente, entram em confrontos dos
quais saem quase sempre feridos, seja aqui no Brasil ou lá na Síria.
Mas, enquanto
isso, as pessoas lá no ‘face’ que interagem em prol dos “Ocupa” isso e aquilo;
talvez tendam a se juntar e a interagir mais pela oportunidade de vivenciar
algo legal (como se fosse uma balada e/ou uma ida ao cinema) ou conhecer gente
nova do que propriamente porque se preocupam de fato, de verdade e
realmente, com os sem teto ou com o futuro dos índios Guarani.
O humano
nas redes
Pois é
pensando por aí, inevitavelmente a gente retorna à questão humana_ ora, como
assim, retorna se são saímos dela, você dirá; mas eu acredito que saímos sim,
quando tentamos explicar certas questões que nos atormentam (e são muitas) pelo
viés do macro e não do micro_ e percebe
o básico, o simples, aquilo que esteve ali todo o tempo e ‘como não enxergamos
“ e etc.: a raça humana parece estar regredindo (parece?!) em muitos e variados
aspectos e o tal facebook apenas e tão
somente (coitado, dele) é só outra representação disso.
Sem apelar
para os ideais de perfeição que sempre perseguiram a humanidade – ou seja: nós
– e que já foram destrinchados por pessoas muito cultas, o que não é nem de
longe o meu caso – em tratados, ensaios, teses ... uma olhadela no face mostra
apenas o lado banal da raça a qual pertencemos (e devo confessar minha hipocrisia, pois estou
‘lá’, já saí e voltei não sei quantas vezes, e agora ‘estou’ novamente, embora
não consiga me inserir, fico mais à margem porque quase sempre, as ‘coisas’ que
aparecem não me animam a participar de nada. É como se eu tivesse num sambão ou
num baile funk e isso para uma pessoa como eu, que gosta de rock não é exatamente animador rs).
Voltando ao
banal: sim, porque é muito mais fácil repicar estrofes do Pessoa ou do Quintana;
frases de auto ajuda e conselhos diversos – ‘leia mais’; ‘faça uma doação ao
hospital do câncer’; ‘passeie com seus
filhos’ – do que estar no centro comunitário mal ajambrado do bairro ou na reunião de condomínio, numa
conversa cara a cara com gente irritada, cansada, suada...tudo ali, ao vivo e a
cores.
Eu devia
parar de ser tão chata e aceitar as redes sociais apenas como lugar de lazer,
como quase um hobby desses nossos tempos modernos, mas não consigo: me irrito
quando vejo ‘certas coisas’, saio, fico
tempos sem aparecer, mas daí volto e ...começa tudo de novo.
Meu relato
talvez seja apenas a confissão também banal de que sou uma pessoa confusa,
alegre às vezes, e melancólica às vezes, entusiasmada por ser gente e revoltada
por ser gente e que, ao ir ‘lá’, no facebook, se vê diante das mais variadas
futilidades humanas - pessoas que expõem
ali seus almoços, seus filhos, suas viagens, seus passeios e de vez em quando, expõem
também suas revoltas com as coisas que lhes acontecem (uma compra mal sucedida,
um funcionário que não as tratou bem num lugar X...), seus sonhos de que o
mundo seja um lugar melhor (sem que tenham que, de fato, de verdade, trabalhar
por isso) e etc.
O ser humano
– nós, eu, você, os políticos, os atores da novelona das oito, o cara da
padaria - tem um lado sombrio e mal e
cada um vai aparando suas arestas na convivência, vai construindo suas pontes
de afetos e esperanças; mas nas redes sociais todo mundo só quer mostrar o
quanto eles são felizes por serem eles mesmos e foi justamente por isso que o
criador do fakebook – ôps, facebook – ganhou tantos bilhões e virou (óbvio)
filme para passar no cinema do shopping e na TV paga.
Como ninguém
(talvez pelo fato de ser tão jovem e cria dessa matéria dispersa do nosso
tempo) ele soube inventar esse painel
virtual, essa possibilidade de exposição inofensiva (ou nem tanto, basta ver o
quanto existe de maledicência, sentimentalismo barato e etc.) das vaidades e futilidades que argamassam as
relações humanas desde que o homem morava nas cavernas e gostava de escrever nas paredes.
As redes
sociais ficarão – infelizmente – como símbolo dessa nossa época feita de
valorização do ego, do excesso ‘excessivo’ de auto-estima (e a redundância é
importante) e da total falta de senso crítico no qual estamos todos mergulhados
queiramos ou não.
E, enquanto
isso, eu, pessoa mergulhada nisso tudo até o pescoço, fico aqui refletindo na
grande questão existencial (hamletiana eu diria rs) do nosso tempo: devo entrar, sair,
permanecer, ficar, mas com um nome falso, lá, no tal facebook?!
Aqui o link
para o artigo do Pondé, caso não consigam acessar, avisem que mando por e-mail.
Seção Geraes de Minas
No (ótimo) artigo dessa semana o Paulo faz a pergunta básica "Por onde anda o ouro de Minas"? Pois é, quem estaria disposto a fazer uma expedição pela Europa para responder (é claro que em Portugal esse ouro deve forrar igrejas e monumentos, mas e em outros lugares?) tal pergunta? Mas, como ele mesmo ressalta "o ouro se foi e não faz falta" o que sim, faz muita falta é um pouquinho (não se pode pedir muito, afinal) de consciência em relação a essas tantas questões que compõem a história de Minas e claro, do Brasil.
Um pouco de lucidez, não faz mal a ninguém e o que o Paulo 'deseja' para Minas -
- "Falta-nos agora uma revolução cultural, que restabeleça um passado coerente e projete um futuro; uma história mais completa" - vale com toda certeza, para este nosso país.
Por onde anda o ouro de Minas?
Boa
parte desse ouro e pedras saiu de Sabará e Vila Rica (hoje Ouro Preto),
mas
também de outras Vilas, como São João Del Rei e Diamantina.
Muita gente se pergunta por onde anda o
ouro de Serra Pelada, no Pará, onde existiu um verdadeiro formigueiro humano e
de repente não se fala mais no assunto. Outros se perguntam por onde anda a
prata das minas de Potosi, na Bolívia, outro formigueiro humano de tempos idos
e sobre o qual quase não se fala. E as riquezas dos Incas, dos Astecas e dos
Maias?
A Capitania de Minas Gerais forneceu,
principalmente na primeira metade do século XVIII, uma quantidade imensa de
ouro e pedras preciosas que eram levadas para a metrópole portuguesa,
contrabandeadas para França e Holanda, e sabe-se lá para que outros lugares,
quando os galeões não eram atacados por piratas espanhóis, franceses ou
holandeses ou por corsários ingleses.
Boa parte desse ouro e pedras saiu de
Sabará e Vila Rica (hoje Ouro Preto), mas também de outras Vilas, como São João
Del Rei e Diamantina. Às arrobas eram levadas por naus de guerra para Portugal,
de onde iam quase diretamente para a Inglaterra, em pagamento das manufaturas
que a Corte não produzia, mas consumia em larga escala.
Com o ouro das Gerais e parte da prata
de Potosi a Inglaterra fez a sua revolução industrial. Juntando as riquezas
extraídas de suas colônias e os créditos, a Inglaterra foi o primeiro país a
instituir a revolução industrial, seguido pelos Estados Unidos e outros países
europeus. Tudo com base nessa economia construída a partir do saque e da
depredação de outras terras. As mesmas terras que até hoje tentam se erguer
pelo atraso produzido pela revolução industrial tardia, como ocorreu na
Argentina, no Brasil e no Chile, além de alguns países asiáticos.
Igreja em Tiradentes: a riqueza histórica ainda resiste, essa felizmente, permaneceu... (foto: Paulo Santos) |
Mas, quem ainda mais sofre com isso são
os países africanos. Perderam riquezas naturais e habitantes que foram levados
para outros países como escravos para o trabalho nos engenhos de açúcar, nos
garimpos, na lavoura, nos serviços sujos e perigosos e até para as guerras em
troca de alforria, como na guerra contra o Paraguai e na Guerra de Secessão,
nos Estados Unidos, ambas ocorridas na década de 1860.
O ouro das Gerais, principalmente,
lastreou o luxo da corte portuguesa no século XVIII. Nem mesmo o Marquês de
Pombal, um déspota esclarecido, conseguiu fazer com que a Corte entendesse que
era preciso mais autonomia para a nação, e que não se podia sempre comprar dos
outros (da Inglaterra, no caso), pelo alto risco de dependência econômica daí
advinda.
...assim como a riqueza cultural das festas religiosas populares. (foto Danielli Vargas) |
A Capitania das Minas Gerais esgotou-se
pouco a pouco, junto com a paciência dos ‘nativos’, até que sedições e
conspirações de brancos, índios e escravos começaram a nascer. O século XIX viu
o país receber toda a Corte portuguesa de uma só vez (1808); talvez no que foi
a maior migração forçada de uma elite em toda a história conhecida, pois cerca
de quinze mil portugueses desembarcaram por aqui, apossando-se, em definitivo,
do país. Os clãs políticos que ainda hoje temos são, em sua maioria,
descendentes desses fugitivos das tropas de Napoleão Bonaparte.
Minas assentou-se em suas tradições e
costumes, em seu catolicismo popular, santeiro, tornando-se um estado por onde
a política vai e vem, em sua mistura de cores e crenças. Qualquer mineiro
atento encontra um pedaço de sua história num raio de cem quilômetros, mas o
ouro se foi e não faz falta. O que ficou é resto daquele que fez a Revolução
Industrial inglesa. Falta-nos agora uma revolução cultural, que restabeleça um
passado coerente e projete um futuro; uma história mais completa. Uma história
com menos celebridades e com mais participação popular, como de fato aconteceu.
* Paulo Roberto Santos
é professor e sociólogo, seu blog é http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/.
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