Conheça um pouco da obra do artista plástico e escultor mineiro, Ricardo Costa.
O
centro-oeste mineiro é uma região de poucas árvores frondosas, vastos campos
áridos, açudes, córregos e horizontes de cores que oscilam entre o verde musgo
e o azul acinzentado. Também há por aqui muitos cupinzeiros e apesar da
ausência das grandes árvores, há (ainda) muitas outras de porte médio, como os
ipês, aquelas espécies aparentemente feiosas, de galhos retorcidos e cascas
grossas como é, por exemplo, o araticum, árvore que produz um fruto saboroso e muito
apreciado por estas bandas.
É uma paisagem de savana – naturalmente seca –
mas apesar ou justamente por isso, trata-se de uma região fértil em espécies
rasteiras – gramíneas e arbustos - e a biodiversidade
destes campos é constantemente alardeada pelos biólogos e demais conhecedores
da natureza.
O cerrado entre sonho e realidade |
Sim
e por aqui há ainda o verdete, um tipo de rocha rica em potássio, de belíssima
coloração esverdeada – como o nome sugere - que aparece, inesperadamente (e para alegria
daqueles que apreciam esses verdadeiros ‘presentes’ da natureza) sobre os rochedos e as muitas estradinhas que
quase sempre, terminam em córregos e vales.
Assim,
depois de caminhar pelos campos de árvores baixas e retorcidas, a gente pode
encontrar depois de uma curva, atrás de um jacarandá (outra árvore comum por
aqui) ou de um angico, uma estrada toda esverdeada e isso é algo que ilumina a
paisagem, o dia e a vida, enfim.
Mas,
como diria o poeta, ‘é preciso ter olhos de ver’ para apreciar a beleza seca,
retorcida e esverdeada desses campos, dessas árvores e desses horizontes azuis
acinzentados; e o escultor Ricardo Costa, um artista que nasceu na região, sempre teve desde muito cedo, estes raros ‘olhos de ver’.
Estradas empoeiradas e árvores retorcidas: a paisagem mais comum |
Pescarias imaginárias
Foi
ainda na infância, quando morava numa fazenda, que o menino Ricardo começou a enxergar
as belezas locais. Ele conta que desde sempre
gostava muito de desenhar vacas, bois e ‘tudo mais’ com carvão, o material mais fácil de encontrar
porque aqui ainda há, nas casas da
cidade e nas roças, muitos fogões de lenha, daí a presença farta de carvão.
Ricardo entre algumas de suas obras |
Pode-se
dizer, portanto, que foi assim que tudo
começou e por tudo entenda-se uma
carreira que hoje é feita a partir do manuseio de outras matérias primas,
digamos, mais refinadas, como a argila, a madeira e claro, o precioso e tão bonito,
verdete.
Ricardo
Costa – que, como todo bom mineiro, não é de falar muito; e como todo artista
que se preze é um eterno curioso e observador nato – diversificou de tal forma
sua arte que em seu ateliê, há desde oratórios e esculturas de tamanhos variados
(são muitos santos, madonas, escravos,
medusas, gárgulas, profetas e até um soldado romano em tamanho natural) até
telas nas quais retrata a paisagem tipicamente interiorana da cidade na qual
vive ( Dores do Indaiá, cidade de menos de 13.000 habitantes, situada a 250 km
de Belo Horizonte) e que se compõe por praças bucólicas, festas populares,
estradas que se perdem entre arvorezinhas, as ruas simplórias e as pessoas que
também fazem parte de um cenário tão tipicamente mineiro – o vendedor de picolé,
por exemplo, que já deixou de existir,
está devidamente registrado em sua pintura – mas que adquire, expressa
por sua visão única, uma imagem toda especial e memorável.
E, por falar em
visão única, Ricardo também faz uma releitura pós- moderna do ícone de Da
Vinci, a Monalisa (veja foto): a ‘sua’, segura, graciosamente, uma Coca- Cola (e
isso é bem perturbador como a arte deve ser).
A Monalisa pós-moderna... |
Admirador
confesso de Caravaggio – ele foi à exposição que esteve antes na Casa Fiat, em
Belo Horizonte – Michelangelo e Aleijadinho
– Ricardo nos oferece uma visão artística
renovada, colorida e singular que se fragmenta em entalhes, corpos e rostos de
santos; se dilui na pedra que compõe as faces de anjos e profetas; desliza nos
pinceis que eternizam a geografia cotidiana e quase recatada da região – os
morros, as pessoas e as praças – e por fim, representa, sobretudo, de maneira
luminosa, os muitos modos de viver das gentes e porque não, das árvores,
matas e córregos desse (tão bonito) cerrado mineiro.
Os santos e os profetas |
Quando
perguntado o que seria a ‘arte’ para ele
– essa pergunta inútil e reconheço: clichê – ele diz que é como se estivesse em
uma pescaria: é preciso silêncio e concentração quando está esculpindo ou
pintando; é preciso se ‘esquecer da
vida’ para que seja possível retornar, depois, com resultado dessa ‘pescaria
imaginária’.
E
para nós que estamos na superfície, a impressão é exatamente esta: é como se após um mergulho em águas
esverdeadas e profundas, ele retornasse
com suas tantas e variadas preciosidades.
O artista na porta de seu ateliê e ao lado de outra escultura. |
Você
pode ver muitas delas visitando o site www.ricardocosta.art.br/artista.php
Um comentário:
Ana Vargas,te parabenizo pela matéria bem escrita que você escreveu a respeito de mim.''Talvez seja umas das melhores já escrita sobre mim''!!!A frase que mais gostei,foi o da PESCARIA.Espero revê-la no final do ano pra gente conversar sobre a arte em SÃO PAULO.Eu Ricardo Costa agradeço a você,muito obrigado.
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