O carnaval, o papa, o Oscar ...
Juro que eu não queria escrever sobre as coisas de um modo
enfadado ou amargo, então, tentarei.
Passou o carnaval, o papa renunciou, o tal Oscar já divulgou
seus eleitos e estes três eventos marcaram o mês que se foi.
Pois é (ou pois então, como dizemos nas Gerais) diante de
tais acontecimentos eu fiquei pensando...
Primeiro, o carnaval, festa da qual nunca gostei sei lá por
que - acho que é por que desde que me
lembro, gostar de rock; e por ser apenas mais uma moça latino-americana que se
deixou influenciar pelos modos de vida do ‘império’ rs. Sim, sei exatamente
como escrever isso soa antiquado, bobo e contraditório. Por um lado, eu sempre
critiquei a americanização do Brasil, essa mania de cultuar tudo que é feito ‘lá’.
Fico brava quando vejo, por exemplo, a língua inglesa sendo usada em tudo
quanto é lugar: desde os benditos nomes de edifícios que se pretendem chiques
(?!) até as coisas mais banais como a designação de algumas profissões: por
exemplo, porque dizer ‘hair stylist’ ao
invés de cabeleireiro?
Ao mesmo tempo, hoje, com a idade avançada e alguma leitura,
a gente sabe que há muito mais por trás dessa (ainda?) supremacia
norte-americana: eles são inegavelmente esforçados e desde que resolveram se
tornar um país, levaram isso muito a sério (ao contrário de nós, que ainda
tateamos, mas isso é outro assunto) e esse pensamento (uma utopia necessária
quando se quer fazer coisas, seja um país, um livro ou sei lá, uma receita de
bolo) atravessou e impregnou tudo o que forma o tal jeito norte-americano de
viver. Ah, e eles se acham ótimos, os melhores: problemas de autoestima em
relação a pátria, eles (a maioria, pelo menos) não parecem ter.
Bom, mas não vou me alongar nisso – não sou o Roberto da
Matta nem nenhum desses estudiosos que escrevem na grande imprensa sobre essas
coisas – sei é que o rock que nasceu do blues e que era, por sua vez, a música dos escravos norte-americanos*, com
seus lamentos cantados, tão tristes e tão belos, sempre me fez pensar: nasci no
país errado. Mas eu achava que o meu país devia ser a Inglaterra e não os EUA
(quantas besteiras a gente pensa quando tem uns 13 ou 14 anos). Na verdade, sempre achei meio bregas certas coisas vindas
de ‘lá’ que os da minha idade idolatravam, como a Madonna, por exemplo.
Ah, sim, e o carnaval, onde entra nisso? Entra assim: os
sambistas que eu gosto – Cartola, em primeiro lugar – fazem músicas tristonhas
e, embora, eles sejam (claro) filhos de tudo que engendrou o carnaval
brasileiro, imagino que nem eles gostariam de ver no que se transformou
essa... festa**: um desfile interminável
de bundas e peitos siliconados, um culto exagerado ao corpo e tudo isso orquestrado
pelas redes de tevê...
Enfim, todo ano assistimos ao mesmo filme e pelo que
lembro, isso já vem sendo aprimorado (digo, a ruindade disso) desde o final dos
anos 70 (pois eu me recordo das
transmissões carnavalescas do tempo da infância e já as achava deprimentes).
Sobre o carnaval, muitíssimo melhor do que eu (sem dúvida)
escreveu o mestre Drummond em um dos seus poemas nos idos anos 1960 - isto aqui:
O que passou
Há palavras que restam sem
substância,
Que foi feito do conteúdo da folia?
(...) Em Momo quem acredita nestes hojes? (...)
Mas o umbigo subsiste e resiste. As nádegas também. O
carnaval agarra-se a redondas redundâncias para sobreviver.
E a mim, do alto da
minha ‘sabedoria carnavalesca’, só me resta dizer amém ao poeta e assistir
(penalizada ou enojada ou resignada) à sobrevivência do carnaval aí pelos anos
vindouros, um desfile cansativo de caras que se esforçam para aparentar uma falsa
alegria (tão falsa que já não está surtindo efeito).
E o Papa, hein?!
Muita gente culta e especialista em religiões, histórias,
filosofias e nas variadas ciências mundanas escreveu com sapiência sobre a
renúncia do papa. Dizem que ele está cansado, que ele não aguentou a burocracia
católica, que queria uma coisa enquanto os donos do poder, de fato, nas
entranhas do catolicismo, queriam outra e por aí afora. Tenho formação católica
como, sei lá, 90% dos mineiros (?), mas nunca consegui enxergar Deus ali nos
tantos rituais católicos (embora ache alguns bonitos), talvez a renúncia do
papa queira nos dizer isso: Deus não está ali... Quem sabe?
O tal do Oscar
As mais belas mulheres (?), os filmes mais caros, as histórias que alimentam a imprensa
mundial, o diz que diz dos bastidores: todo ano é a mesma coisa. Spielberg faz
um filme sobre um mito americano (porque existem heróis por ali em profusão ou
seja: há material farto para muiiiiiiiitos filmes pelos próximos 100 anos), a
nova queridinha das telas (‘ela era pobre ou já nasceu rica; é simpática ou
chata, nem é tão bonita assim , é super- simples; como alardeia a mídia
sensacionalista), quem traiu quem... E assim, uma indústria (do cinema)
alimenta outra (a mídia) e diante de ambas, nós todos ficamos como os antigos
homens das cavernas olhando pra’s paredes. Alguns ficam mesmo imbecilizados – o
cerco é grande: veja o filme, compre a revista, assista ao trailer e isso e
aquilo – e quantas de nós, mulheres,não nos sentimos nadas diante daquelas atrizes que são produzidas e vendidas pela
indústria do cinema - digo, do cinema norte-americano, bem entendido - como as ‘mais, mais e etc.”.
De tudo isso o que será que é realmente, verdadeiramente
bom, no meio de tanta porcaria oscarizada? O pior é saber que esse modo de
fazer cinema que já está dando – há tempos – sinais de que precisa ser renovado***;
está sendo, agora, em pleno século XXI, copiado ipsis literis, por certa rede de tevê tupiniquim. É tudo igualzinho
ao que é feito ‘lá’, digo, ao pior que é feito ‘lá’.
Mas...
Apesar disso, há gente boa fazendo cinema aqui no Brasil e
‘lá’, sem as mega produções, sem a estrela da vez, apenas com uma boa história
para contar (afinal, cinema não é isso?)
E assim, enquanto as águas vão fechando o mês, entre as
tragédias anuais de sempre; a maior cidade do Brasil é novamente alagada, e os
pobres que moram nos morros vão sendo soterrados; enquanto a Quaresma impera no
calendário e (ainda) no coração dos mais puros ou dos mais alienados...
Enquanto eu puder ver paisagens como essa**** eu vou
acreditar que para além das tantas
indústrias que transformaram o
carnaval brasileiro e o cinema norte-americano em coisas repetitivas e chatas;
e de certa forma, também fizeram o mesmo com a fé de tantas pessoas...
Há algo bem maior que sustenta e fortalece a essência
verdadeira da vida como um todo e que faz com que a gente ainda procure Deus,
fora das religiões; e bons filmes, feitos aqui, na Croácia ou na Argentina (eles
descobriram o seu jeito, merecem aplausos) fora da cartilha hollywoodiana (que é claro, tem seu valor mas
nem eles aguentam mais a pressão da indústria).
Agora, quanto ao carnaval... prefiro ouvir o tal bom e
velho rock’n roll (o velho, porque o que
está sendo feito hoje a indústria da música também conseguiu transformar em
lixo). Ah, sim: e eu fiquei muito feliz com a volta do Bowie! É um refresco no
meio de tudo isso.
*O documentário ‘A
todo Volume”, mostra um pouco dessa história de um jeito diferente (a visão
de três guitarristas geniais: Jimmy Page é um deles). Recomendo.
** Bom, um grande entendido de samba, carnaval e cia - Zeca
Pagodinho, em entrevista para a Folha - decretou que o carnaval morreu... Quem sou eu
pra discordar?
*** Vivo lendo matérias nas quais atores, diretores e etc.
falam do quanto anseiam por boas histórias e o quanto são obrigados a nivelar
por baixo para fazer dinheiro com seus filmes. Ainda bem que o Robert Redford criou o Festival de
Sundance, dali tem saído coisas boas.
**** A natureza sempre me fez achar que discussões em torno
de carnavais, renúncias do papa ou de quem quer que seja e etc. são uma grande
perda de tempo. Essa fotografia aí de cima (porque eu precisava colocar alguma coisa aqui
rs) me fez pensar nisso.
O lugar? Sul das Minas Gerais.
Um comentário:
Eu venho aqui "beber dessa fonte" que compartilhamos (de certa forma...). Venho, leio, e vou compreendendo, partilhando de suas idéias... complementando as minhas. Que falta me faz a sua presença (com maior frequência) neste espaço. Precisamos "consertar" isso rapidamente senão...
Postar um comentário