segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Perfil: Ricardo Costa


  Conheça um pouco da obra do artista plástico e escultor mineiro, Ricardo Costa.


O centro-oeste mineiro é uma região de poucas árvores frondosas, vastos campos áridos, açudes, córregos e horizontes de cores que oscilam entre o verde musgo e o azul acinzentado. Também há por aqui muitos cupinzeiros e apesar da ausência das grandes árvores, há (ainda) muitas outras de porte médio, como os ipês, aquelas espécies aparentemente feiosas, de galhos retorcidos e cascas grossas como é, por exemplo,  o araticum,  árvore que produz um fruto saboroso e muito apreciado por estas bandas.
 É uma paisagem de savana – naturalmente seca – mas apesar ou justamente por isso, trata-se de uma região fértil em espécies rasteiras – gramíneas e arbustos -   e a biodiversidade destes campos é constantemente alardeada pelos biólogos e demais conhecedores da natureza.


O cerrado entre sonho e realidade

Sim e por aqui há ainda o verdete, um tipo de rocha rica em potássio, de belíssima coloração esverdeada – como o nome sugere -  que aparece, inesperadamente (e para alegria daqueles que apreciam esses verdadeiros ‘presentes’ da natureza)  sobre os rochedos e as muitas estradinhas que quase sempre, terminam em córregos e vales.
Assim, depois de caminhar pelos campos de árvores baixas e retorcidas, a gente pode encontrar depois de uma curva, atrás de um jacarandá (outra árvore comum por aqui) ou de um angico, uma estrada toda esverdeada e isso é algo que ilumina a paisagem, o dia e a vida, enfim.
Mas, como diria o poeta, ‘é preciso ter olhos de ver’ para apreciar a beleza seca, retorcida e esverdeada desses campos, dessas árvores e desses horizontes azuis acinzentados; e o escultor Ricardo Costa, um artista que nasceu  na região, sempre teve desde muito cedo,  estes raros ‘olhos de ver’.


Estradas empoeiradas e árvores retorcidas: a paisagem mais comum 



Pescarias imaginárias


Foi ainda na infância, quando morava numa fazenda, que o menino Ricardo começou a enxergar as belezas locais. Ele conta que desde sempre  gostava muito de desenhar vacas, bois e ‘tudo mais’ com carvão,  o material mais fácil de encontrar porque  aqui ainda há, nas casas da cidade e nas roças, muitos fogões de lenha, daí a presença farta de carvão.


Ricardo entre algumas de suas obras




Pode-se dizer, portanto,  que foi assim que tudo começou e por tudo entenda-se uma carreira que hoje é feita a partir do manuseio de outras matérias primas, digamos, mais refinadas, como a argila, a madeira e claro, o precioso e tão bonito, verdete.

Ricardo Costa – que, como todo bom mineiro, não é de falar muito; e como todo artista que se preze é um eterno curioso e observador nato – diversificou de tal forma sua arte que em seu ateliê, há desde oratórios e esculturas de tamanhos variados (são muitos santos, madonas,  escravos, medusas, gárgulas, profetas e até um soldado romano em tamanho natural) até telas nas quais retrata a paisagem tipicamente interiorana da cidade na qual vive ( Dores do Indaiá, cidade de menos de 13.000 habitantes, situada a 250 km de Belo Horizonte) e que se compõe por praças bucólicas, festas populares, estradas que se perdem entre arvorezinhas, as ruas simplórias e as pessoas que também fazem parte de um cenário tão tipicamente mineiro – o vendedor de picolé, por exemplo, que já deixou de existir,  está devidamente registrado em sua pintura – mas que adquire, expressa por sua visão única, uma imagem toda especial e memorável. 

E, por falar em visão única, Ricardo também faz uma releitura pós- moderna do ícone de Da Vinci, a Monalisa (veja foto): a ‘sua’, segura, graciosamente, uma Coca- Cola (e isso é bem perturbador como a arte deve ser).


A Monalisa pós-moderna...

Admirador confesso de Caravaggio – ele foi à exposição que esteve antes na Casa Fiat, em Belo Horizonte  – Michelangelo e Aleijadinho – Ricardo  nos oferece uma visão artística renovada, colorida e singular que se fragmenta em entalhes, corpos e rostos de santos; se dilui na pedra que compõe as faces de anjos e profetas; desliza nos pinceis que eternizam a geografia cotidiana e quase recatada da região – os morros, as pessoas e as praças – e por fim, representa, sobretudo,  de maneira  luminosa, os muitos modos de viver das gentes e porque não, das árvores, matas e córregos desse (tão bonito) cerrado mineiro.


Os santos e os profetas 

Quando perguntado o que seria  a ‘arte’ para ele – essa pergunta inútil e reconheço: clichê – ele diz que é como se estivesse em uma pescaria: é preciso silêncio e concentração quando está esculpindo ou pintando;  é preciso se ‘esquecer da vida’ para que seja possível retornar, depois, com resultado dessa ‘pescaria imaginária’.
E para nós que estamos na superfície, a impressão é exatamente esta:  é como se após um mergulho em águas esverdeadas e profundas,  ele retornasse com suas tantas e variadas preciosidades.

O artista na porta de seu ateliê e ao lado de outra escultura.


Você pode ver muitas delas visitando o site  www.ricardocosta.art.br/artista.php






Um comentário:

RICARDO COSTA disse...

Ana Vargas,te parabenizo pela matéria bem escrita que você escreveu a respeito de mim.''Talvez seja umas das melhores já escrita sobre mim''!!!A frase que mais gostei,foi o da PESCARIA.Espero revê-la no final do ano pra gente conversar sobre a arte em SÃO PAULO.Eu Ricardo Costa agradeço a você,muito obrigado.