segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Origem das Minas



Hoje, bairrismo pouco é bobagem: são dois textos só sobre Minas:
 no primeiro o colaborador oficial, Paulo Santos, nos oferece um aperitivo sobre a origem das Minas Gerais. 

A ideia da seção também é postar trechos de livros pouco divulgados como esse que o Paulo escolheu para hoje  - "Itapecerica" de autoria de Célia Lamounier.

Já o  segundo texto é uma resenha do livro Memorial do Desterro, do escritor Lazaro Barreto, uma obra que merece ser divulgada.

Boa Leitura!




                                      

Seção Geraes de Minas


Artigo - Como Minas Começou?

 

                                                     
             Paulo R. Santos

Aventureiros chamados de bandeirantes embrenharam-se pelo sertão no final do século XVII, em busca de ouro e pedras preciosas, abrindo assim as primeiras picadas e fazendo os primeiros contatos com os indígenas que eram alvo de captura para o trabalho escravo. Mas foi a Guerra dos Emboabas (1708-09), uma disputa entre paulistas e forasteiros, já igualmente interessados nas minas, que deu origem à Capitania de Minas Gerais, em 12.09.1720, com a capital em Vila Rica.

                                                        ***

(Trecho da Revista Instituto Histórico e Geográfico de MG – Vol. X-63) *

* Conforme citado no livro “Itapecerica”, organizado por CÉLIA LAMOUNIER DE ARAÚJO, de acordo com cópia digitalizada e disponibilizada na internet em 2007: 

“Os descobertos surgiam em todos os quadrantes do território, por isso mesmo
chamado das minas gerais; e ao lado deles os arraiais, mais ou menos densos, conforme a maior ou menor abundância de ouro e diamantes, a reclamar vigilância e assistência das autoridades.  A eficácia das medidas representadas pela criação das vilas dependia da existência das condições mínimas para o seu funcionamento, tais como a fixação de interesses econômicos, o elemento humano para as funções públicas e um nível de cultura suficiente para a formação do espírito comunitário com base nos princípios morais que informaram a
vida social do Brasil desde o início de sua colonização.

Em todo o século dezoito foram criadas somente catorze vilas:

1711 – Vila de Ribeirão do Carmo, hoje Mariana


Mariana - Foto: Danielli Vargas



























1711 – Vila Rica, hoje Ouro Preto
1711 – Vila Real do Sabará
1713 – Vila de São João d’El Rey


S.João Del-Rei - Pintura Rugendas*





1714 – Vila Nova da Rainha, hoje Caeté
1714 – Vila do Príncipe, hoje Serro
1715 – Vila Nova do Infante, hoje Pitangui
1718 – Vila de São José d’El Rey, hoje Tiradentes



Tiradentes - Foto: Cláudio Lopes*



















1730 – Vila das Minas do Fanado, hoje Minas Novas
1789 – Vila de São Bento do Tamanduá, hoje Itapecerica
1791 – Vila de Barbacena
1792 – Real Villa de Queluz, hoje Cons. Lafaiete
1798 – Vila da Campanha da Princesa da Beira, hoje Campanha
1798 – Vila de Paracatu do Príncipe, hoje Paracatu.”


      *  A imagens do desenho de Rugendas e a fotografia de Cláudio Lopes estão disponíveis no site (que vale muito a pena conhecer):      http://www.saojoaodelreitransparente.com.br/  






Resenha: Memorial do Desterro 


Ana Claudia Vargas

“A noção do tempo a escoar no próprio tempo, quando todos os dias começam no mesmo dia que nunca acaba” . (Lazaro Barreto)




Foto: Paulo Santos


Como seria contar a história de um lugar a partir das vivências das pessoas desse lugar? Como seria recriar o infindável mosaico de memórias e histórias que compõem a vida de todos nós?

Enquanto vivemos nosso dia-a-dia, não temos como pensar que estamos construindo histórias que depois poderão servir para formar o intrincado quebra cabeças de toda uma época.

Pois agora imagine um livro que conte a ‘história’ de um lugar a partir da vivência dos anônimos, daqueles que são a maioria, daqueles trabalham e constroem suas vidas anonimamente e que nunca terão seus nomes escritos nas pomposas letras dos livros que analisam o passado ‘de cima para baixo’.

Em tempos de celebridades instantâneas, do ficar famoso sem nenhum esforço ou mérito, de mediocridade ululante – parodiando o Nelson Rodrigues – encontrar um livro despretensioso (mas não superficial, muito pelo contrário) que narra a história de um lugar a partir das pessoas simples – seus afazeres, suas sabedorias, tristezas e alegrias -  é realmente um achado.

Um achado precioso: é assim esse livro “Memorial do Desterro”, do escritor mineiro Lázaro Barreto.

É dele que vou falar hoje na sessão Geraes de Minas porque a proposta aqui é também a de resenhar livros pouco conhecidos sobre a história das Minas Gerais.


O livro


O autor do prefácio Frei Bernardino Leers , de forma exata, escreve: “Muito livro de história é macro-história, virtudes e defeitos (...) de governantes, generais e nações (...). São como fotografias coloridas a distância, de panoramas grandiosos em que os detalhes desaparecem entre os bastidores gigantescos das montanhas e vales (...)”.
Pois nesse Memorial, o autor ilumina as reentrâncias dos vales e montanhas que contornam a região do Desterro – hoje o antigo arraial se chama Marilândia – e assim, revela as muitas histórias das famílias locais e de suas descendências; de lugarejos próximos que já mudaram de nome ou nem existem mais - mas  aqui, é bom lembrar, eles estão fervilhando de vida – das tantas pessoas que ‘coloriam’ esses lugarejos.

Os capítulos, que tem nomes como ‘Os Clãs e os Feudos”; “Uma Família”; “A Religiosidade Popular”; “A Geografia Humana” entre outros,  fazem com que nos sintamos íntimos das pessoas ali apresentadas. É como se entrássemos na casa de cada uma delas,  nas velhas fazendas nas quais moravam  e ouvíssemos  estórias contadas pelos tropeiros que paravam por ali de tempos em tempos, as rezas  e as serestas, e quase podemos ouvir também o rumorejo dos riachos e o barulho do vento nas árvores.

Mas o que torna este  livrinho deveras especial é o fato de o autor escrever contos carregados de poesia e lirismo para tornar o conteúdo mais leve e ainda mais interessante. 

Com nomes como “Dias, meses e anos”, “As partes verdes do sábado” ou “A natureza morta”; ele nos apresenta a história do Desterro por meio de personagens como o Zé Juca e o Tiãzinho, a Maria Euzébia e o João Gaiato; cada um deles talhado na sabedoria e na singeleza do povo do interior de Minas.

“Carradas de meses e dias, anos a perder de vista, vividos nos mínimos momentos da vigília que vai e volta à lucidez e ao sono, sempre ali, sentada no banco tosco de pedra, do lado de fora do casarão, à sombra das magnólias, a cabecear, a fitar nesgas da rua, a mascar o fumo de rolo temperado na cinza do borralho”. 
É assim que começa o conto “Dias, Meses e Anos”, numa arquitetura literária que me lembrou Autran Dourado no seu “Uma vida em segredo”.


Tem ainda a história do Zefolha, das irmãs Morais e de muitos outros personagens que o autor inventou para tornar ainda mais vívidas e quase reais, as histórias das muitas gentes que trabalharam, andaram pelos sertões, carpiram e plantaram, tiveram filhos e os batizaram, ergueram capelas e igrejas, enterraram parentes, fizeram folguedos e acreditaram em assombrações e capetas.


Assim  é este “Memorial do Desterro”, uma viagem no mínimo, diferente,  pela memória de um lugarejo que ainda existe e resiste  ali para os lados de Claudio e Divinópolis, um lugar como tantos outros dessa Minas Gerais e que, como tantos outros, tem particularidades que foram muito bem resgatadas por meio da pesquisa aprofundada e da escrita cuidadosa de Lazaro Barreto.


“No jogo histórico da evolução e do declínio do arraial do Desterro, o autor recupera o movimento humano da região pelos nomes de pessoas, famílias, localidades e fazendas, tropeiros, viajantes, (...) seresteiros, rezadeiras (...). O memorial do Desterro cria a lembrança viva de um lugar no sertão em que tanta gente nasceu, brincou, trabalhou, sofreu, casou, criou família (...)”:  pois faço minhas as palavras do autor do prefácio. 

Neste o Memorial do Desterro uma parte do sertão mineiro ainda vive e continuará a viver por muito, muito  tempo.

Livro:  Memorial do Desterro
Autor:  Lázaro Barreto
Editado pela Diocese de Divinópolis
158 páginas - 1995

O autor mantém esse blog http://lazarobarreto.blogspot.com.br/ no qual mostra outras facetas além dessa de escritor.






Nenhum comentário: